quarta-feira, 15 de abril de 2009

O processo criativo da peça Propriedade Privada

A peça Propriedade Privada conta a história de João Ninguém um simples servo que é passado para trás pelo Conde Henrique de Champangne (João Dias Jr.), após se comprometer a construir duas porteiras para proteger o lugar o feudo onde mora. Quando a idéia surgiu, nao existia o protagonista, apenas o seu antagonista, o Conde. Mas desde a sua criação inicial a peça já havia sido batizada de Propriedade Privada, porém não era só esse título, existia também um subtítulo que seguia assim: Propriedade Privada - A história de um reino muito, muito perto mesmo. Mas achava que não funcionava e deixei por um tempo essa breve idéia de lado. Junto do título havia ainda algumas linhas de histórias e outras idéias soltas que acho que acabaram nem entrando, mas de uma coisa eu tenho certeza as porteiras sempre estiveram lá. Eram a força motivadora de toda a história. Era a trama principal. 

Acho que abandonei por uns meses a idéia e fui fazer outras coisas. Escrevi alguns roteiros prórpios, colaborei com outros amigos em seus roteiros, participei do processo criativa das novelas Caminhos do Coração e Os mutantes, fui assitente do Doc Comparato no roteiro de uma peça, um piloto de seriado e o roteiro de um filme, até quem um dia em uma conversa informal essa velha e conhecida idéia veio à tona e como num passe de mágica a história inteira veio à cabeça, personagens, tramas paralelas, viradas e intrigas... Tudo isso por causa de uma simples mudança temporal, algumas centensa de anos e a peça poderia acontecer. O que seria uma peça contemporânea passou para os tempos feudais (Idade Média) e tudo se resolveu. Estava acesa a chama que me motivava a escrever essa história que até hoje fascina e me faz dar boas risadas a cada leitura, ensaio e se Deus quiser apresentações. E muitas pelo que estamos programando e esperando. 

Depois dessa conversa mergulhei de cabeça nos livros e fiz uma ampla pesquisa sobre feudalismo, costumes de época e coloquei tudo isso a meu favor na escritura da peça. Acredito que um dia quem sabe, ela se torne filme, mas por enquanto vamos focar na peça. 

Depois deste periodo de pesquisa e estudo sobre o feudalismo, pude começar a escrever o roteiro. Fiquei muito feliz quando terminei o primeiro tratamento, nome que damos ao texto quando está pronto, depois a cada revisão vamos alterando os números. Para que a peça ficasse com todas as suas pontas costuradas e tivesse coerência, cheguei a fazer de 12 revisões o que resulta em 12 tratamentos para a peça. Ufa! Chega. Agora é ver o espetáculo nos palcos e comemorar. 

Abaixo segue um fragmento de uma das cenas da peça. Uma cena entre o Conde Henrique de Champangne (João Dias Jr.) e a sua fiel secretária, Dona Zuleide (Ludymila Gemino). 
Espero que gostem e fiquem com gostinho de quero mais. 

CENA 3 - ESCRITÓRIO DO CONDE - DIA 

Pela porta do escritório entra o conde seguido por sua fiel escudeira e secretária, dona Zuleide.

D. ZULEIDE
O senhor tem noção da enrascada em que meteu? Conde, construir duas porteiras em um momento tão delicado para o feudo é cavar a sua própria sepultura.

CONDE
Mas meu Deus, nem parece que trabalha comigo há anos.

D. ZULEIDE
Vinte para ser exata. Mas nesses anos todos, o dinheiro nunca foi tão pouco quanto agora e para piorar o material por engano foi parar no feudo do seu irmão.

CONDE
Pelo amor que você tem a Deus . Não comente nada sobre isso. Me entendeu? Com ninguém! Nem com a sua sombra.

D. ZULEIDE
Está bem. Não precisa dizer duas vezes. Já entendi.

CONDE
Já era para ter se acostumado. Mais do que ninguém a senhora sabe que desde o tempo do meu tataravô, as coisas são assim. E acredito que mesmo antes dele já eram desse jeito.

D. ZULEIDE
Sinto ter que desapontar o senhor, mas neste momento, não temos como construi r essas duas portei ras. Não temos nem como fazer uma, que dirá duas. Duas, entendeu? Precisamos de mais investimentos, tudo em dobro. O senhor mais do que ninguém sabe que o feudo está nos seus limites de crédito. Aliás, eu ainda não descobri onde é gasto tanto dinheiro. 

O Conde meio que desconversa.

CONDE
Onde é gasto? Gasto... Onde é gasto, é isso, não é?

D. ZULEIDE
É. Isso mesmo. Onde é gasto. 

CONDE
Sabe que eu não sei. Me deu um branco agora. Branco não. Dourado. Isso dourado. Me deu um dourado. Gosto muito dessa cor.

D. ZULEIDE
Não sei se o senhor sabe, mas a quantidade de alimentos produzidos foi insuficiente para alimentar todos aqui no seu feudo. Tem servo passando fome. 

Irônico. Como se não soubesse de nada.

CONDE
Ah! É? Como a senhora não me informou sobre isso? Oh! Meu Deus! Mas a senhora não precisa mais se preocupar.

Silêncio. 
Ele começa a mexer nos papeis da mesa dele, não dá muita atenção para dona Zuleide que está em pé parada esperando a resposta do Conde.

CONDE
Desde que a minha famíli a fique bem alimentada estará tudo bem. Agora só um aviso, faltou caviar, champagne e presunto de parma lá em casa, cabeças vão rolar. Escuta o que eu estou dizendo. Por que se isso acontecer, eu vou começar pela da senhora!

O conde faz sinal de que vai cortar o pesçoco de Dona Zuleide.
Dona Zuleide faz o sinal da cruz.

D. ZULEIDE
Deus me livre de uma coisas dessas.

Dona Zuleide começa a arrumar os documentos que estão em cima da mesa do conde. O conde se senta. Está pensativo. Põe a mão no queixo. Pensa mais um pouco. Dona Zuleide está empilhando os papéis . De repente tem uma idéia. Dá um gri to e assusta dona Zuleide, ela por sua vez deixa cair tudo no chão. Faz uma cara de decepção. 

CONDE
Dona Zuleide, tive uma idéia.

Acompanhe tudo sobre os bastidores da peça Propriedade Privada só aqui no blog da produção. 
Até breve. 
Amanhã tem mais novidades. 
Romulo Barros 

Legenda: 
Foto 1: Romulo Barros (Autor, Produtor e Co-diretor)
Foto 2: João Dias Jr. (Ator e Diretor) e Ludymila Gemino (Atriz) 

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